Surtar: Pode ser o caminho para sua sanidade. Muitas vezes nos perdemos na busca pelo bem-estar constante e na necessidade de manter uma imagem otimista o tempo todo. É importante reconhecer e expressar nossas emoções, mesmo aquelas que consideramos “surtos”, às vezes, essas explosões emocionais são necessárias para nossa saúde mental e para lidar com conteúdos reprimidos.
Surtar, aqui não significa necessariamente perder o controle de forma destrutiva, mas sim permitir-se sentir e liberar emoções intensas. Às vezes permanecemos em uma letargia achando que tudo está sob controle e “bem”. É curioso como nos apegamos ao “bem”, ao prazer, ao agradável. Esse excesso de bem-estar, como muitos sabem, está relacionado a devaneios mentais de uma sociedade altamente disfuncional.
Eu sou muito a favor do otimismo, acredite em mim, mas a partir do momento em que ele se torna uma máscara para não perceber fatos, pode ser prejudicial. Já ouvi na clínica relatos do tipo “eu tenho medo de surtar”, “sinto que vou surtar”, “eu surtei”…
Surtar com Vigor: Benefícios da Liberação Emocional
Primeiro é importante perceber que aquilo que chamamos ou achamos que é um surto pode estar relacionado a conteúdos reprimidos devido ao otimismo exacerbado e à necessidade de controle. Diversos sentimentos que nos machucaram, mas que preferimos empurrar para o inconsciente em vez de lidar com eles, de enfrentar pessoas, situações e conteúdos psíquicos reais. Nesse caso, eles se manifestam em forma de reações descontroladas, exageradas, destrutivas, entre outros – avalanches.
Minha dica é: surte. Surte com vigor, minha amiga, meu amigo. Dê aquela surtada boa, solte uns berros, fale sozinho mesmo ou o que você chama de “surto” (em caso de violência e crises recorrentes, busque auxílio de um profissional). Eu garanto que será muito benéfico para sua saúde integral. Somos plurais, não é possível estar bem o tempo inteiro.
Ceda à gravidade, deixe seu corpo e as imagens de sua psique te guiarem, abra mão dessa sensação onipotente de controle sobre tudo. “Eu fiquei chorando o dia inteiro, acho que estou com depressão”. É recorrente, dentro do senso comum, pensar que estar lidando com conteúdos pesados e demônios internos é estar deprimido.
Explorando Nossa Complexidade Emocional
Uns dias deitados sem vontade de se mexer ou falar com alguém são sinal de autorregulação psíquica, um “surto” aos berros para pessoas que têm sido abusivas por um longo período contigo, é sinal de anticorpos. Nenhum extremo é saudável, nem a dor extrema, nem a felicidade extrema, nem a irritabilidade como protagonista nem a doçura.
Somos seres complexos com diversas facetas, e todas elas necessitam de cuidados e reconhecimento. O que posso oferecer à minha tristeza que se apresenta nesse momento? O que posso oferecer a essa ira extrema? Devo oferecer essa compaixão que me anula? O que posso fazer ou deixar de fazer com essa situação abusiva? Ouça a si mesmo com sinceridade.
Haverão perdas e dores, mas haverá saúde. É preciso abrir mão da imagem que criamos de nós mesmos para nos encontrarmos pouco a pouco com quem somos de fato e entrar em contato com nossas emoções. Só você viverá sua vida e receberá as consequências de suas escolhas. Busque ser fiel a si mesmo.
Bom surto para você!
P.S.: Não estou falando de pessoas com doenças psicopatológicas; claramente, elas estão em sofrimento contínuo e são casos diferentes. Estou falando com pessoas que se encaixam em seus papéis sociais, o oposto de um indivíduo em sofrimento psicopatológico, completamente à margem da sociedade.
Se você se identificou com as reflexões deste texto e sente que está enfrentando desafios emocionais, lembre-se de que buscar ajuda é um passo importante em direção ao bem-estar. Como psicóloga, estou aqui para oferecer suporte e orientação em sua jornada de autodescoberta e crescimento pessoal.